quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Impasses de Profissão

Acabei de ler a minha ultima mensagem e percebi o quanto mudou desde a ultima vez que aqui vim. Julho de 2013 ... Nessa altura jamais pensei que seria capaz de voltar a viver em Londres, e no entanto, aqui estou eu novamente. Um dia destes escrevo sobre tudo o que me passou pela cabeça (e pela vida) quando decidi voltar para cá e tentar outra vez. Hoje preciso apenas de desabafar algo que me faz sentir triste mas que me prova que nunca paramos de crescer e enfrentar obstaculos, nem mesmo quando temos quase 30 anos.

Foi numa quarta-feira, dia 8 de Julho, que voltei para Londres, de armas e bagagens e uma certeza imensa no coração de que desta vez tudo ia ser diferente, tudo ia correr bem. E não estava errada. Cinco dias depois, dia 13 de Julho, comecei a trabalhar num local que adoro e me faz sentir o maior orgulho no meu trabalho.Tudo graças a um amigo que me deu essa oportunidade. Comecei a trabalhar numa área da qual sempre jurei a pés juntos nunca vir a fazer parte. E no entanto tenho de admitir que me rendi, e que hoje sinto uma paixão imensa no que faço. Não é toda a gente que pode dizer que faz o que faz por verdadeiro gosto, por verdadeiro "amor à camisola". E eu confesso que nunca pensei que isso me fosse acontecer a mim, principalmente depois de todas as desilusões profissionais pelas quais passei em Portugal.

Na verdade, hoje percebo que de tudo o que já fiz até hoje, de todos os trabalhos que tive, nunca tive nenhum desafio verdadeiramente à minha altura; nunca tive comparação em termos de organização ou de inteligência; nunca me equiparei a ninguém porque não havia ninguém a quem me equiparar. E também nunca tive o devido reconhecimento pelo meu trabalho porque simplesmente nunca me pus em situações profissionais que requeressem grande desempenho da minha parte. Sempre me saí bem, sempre fiz o que era esperado de mim e sempre me senti incompleta e pouco realizada com tudo isso.

Hoje vivo numa situação profissional totalmente diferente. Trabalho em Eventos, para uma empresa de Catering reconhecida na industria, que opera em diversos edificios históricos. Já trabalhei em vários deles e retirei o melhor que podia para me tornar numa profissional melhor. Abri portas em quase todas e muitas foram as vezes em que senti a alegria e um orgulho imenso em mim mesma por ter visto o meu trabalho reconhecido por pessoas que so tiveram oportunidade de trabalhar comigo 1 ou 2 vezes e ainda assim se surpreenderam com o meu esforço. Esse reconhecimento não tem preço, pois só me prova o quanto consigo ser boa a desempenhar o meu trabalho. E no entanto sei que estou longe de ser perfeita, sei o quanto ainda tenho de aprender. O que me traz de volta à minha unidade principal, onde trabalho regularmente.

Ali, em Greenwich, tenho aprendido com os melhores. Cruzei-me com pessoas que influenciaram a minha vida a nivel profissional de tal forma que só me deram mais vontade de aprender mais e melhor para chegar mais longe. Muitas dessas pessoas tornaram-se muito próximas a nivel pessoal e hoje sei que tenho ali amigos de verdade. Outras, obviamente não me são tão proximas do coração. Posso ainda dizer que ali já perdi alguém que me era querido, mas com isso aprendi a ser mais forte. A minha carapaça tem enrigecido e (também) por isso já me sinto agradecida.

Também ali, tenho enfrentado os meus primeiros desafios e obstaculos profissionais, coisa com que nunca antes me deparei. Vejo-me pela primeira vez em impasses pelos quais nunca passei. Vejo-me perante situações às quais não sei reagir por nunca ter vivido nada igual, e então dou comigo perdida por não saber que passo dar a seguir. Sinto-me sofrer com justiças e injustiças que acontecem à minha frente constantemente. E sinto-me sofrer por mim e pelos que me são próximos e injustiçados. Nunca pensei trabalhar num sítio onde alguém perde oportunidades por não ser "adorado" por parte de quem está lá "em cima". Nunca pensei ver pessoas mudarem quem são, trocarem as suas palavras e os seus valores por medo de contrariarem a vontade das chefias. Nunca pensei que as coisas que vemos nos filmes e novelas acontecessem de verdade. Mas depois percebo que a ingénua sou eu. Eu é que nunca trabalhei em grandes empresas, nunca tive um emprego (tive trabalhos), nunca persegui uma carreira antes. Hoje vejo-me a viver essas coisas, e as injustiças, as "duas-caras", as sucessões de acontecimentos que desencadeiam os problemas, e não sei como agir; como reagir.

Aconteça o que acontecer no meu futuro, nunca quero deixar de ser quem sou, de respeitar os meus princípios, os meus valores e principalmente a minha palavra. Não quero ser alguém que hoje diz uma coisa, amanhã muda de ideias (seja lá porque motivo for) e não tem  coragem de se sentar com quem é afectado para ter uma conversa. Não quero ser uma pessoa que deixa os outros sofrerem sem pelo menos uma palavra, uma explicação. Não quero nunca ser a pessoa que baixa a cabeça quando uma injustiça é cometida, só porque não tenho coragem de enfrentar os meus superiores. Não quero agradar os outros, não quero ser igual aos outros, não quero que ninguém queira ser igual a mim, mas quero sempre ser um bom exemplo para os que se identificarem com os meus princípios. Não quero ficar magoada com os outros quando eles conseguirem alguma coisa que eu também gostava de conseguir, porque a vida é assim mesmo, cheia de oportunidades para muitos e cada um terá a sua hora para ser bem sucedido. Quero ficar (e fico) feliz por quem merece e consegue chegar mais longe, mesmo que isso me deixe a mim ou os que eu admiro para tras. Quero sempre ser justa, quero ser sempre um apoio para quem trabalhar comigo e jamais maltratar as pessoas com quem não me identificar pessoalmente ou profissionalmente. Quero muito ser boa no que faço sem nunca deixar de ser quem sou. E não quero nunca deixar de ter coragem para lutar por tudo isto.

Enfim ... foi um desabafo. Se calhar preciso de conselhos de alguém mais sábio do que eu sobre o assunto. Preciso de alento e força para superar e ajudar quem me é mais próximo a superar também os obstaculos que encontramos pelo caminho.