Voltei! Fui rápida, não fui? Enfim, acho que vou fazer hoje o que não fiz ontem, aqui: desabafar.
Ando um bocadinho desânimada/desmotivada. Porquê?! Bem, existem vários motivos, cada um com a sua cota de importância aqui no infortúnio da menina.
O mais insignificante dos motivos é a existência dos flatmates desconhecidos. Passo a explicar: cá em casa somos 12
(acho que o 13º não foi confirmado, por isso continuamos a ser 12), 7 portugueses todos amigos e conhecidos, mais 1 brasileiro que até é +/- simpático e alinha na convivência tuga, 1 inglês
(ou talvez seja australiano) que pouco ou nada fala e mantém o seu gato clandestinamente escondido no quarto
(não que isso me incomode, porque gosto de gatos, mas a falta de honestidade não é coisa que me fascine), e o maldito trio
(à espera do 4º elemento) de bulgaros/romenos ou qq coisa desse género. São um casal, um miúdo e ela ainda por cima está grávida. São insuportáveis!!! Além de não educarem decentemente a criança, também não o controlam e ele só deve ter uns 3 ou 4 anos, mas é um terror muito chato. Eles usam as coisas deles e logo a seguir escondem-nas
(e isso é compreensivel) mas também usam os utensílios comuns e deixam-nos num estado anti-higienico que não dá para descrever. Cozinham e deixam tudo cheio de óleo e gordura e restos por todo o lado. Na única casa-de-banho desta casa, fecham a porta sem ninguém lá dentro para impedir o resto dos moradores de a usarem em determinadas alturas, e a higiene também não é muita, mas pronto. Ele faz-se de querido e simpático e amiguinho e na verdade é um falso mentiroso que só visto! E pior, é racista assumido! Dá para acreditar nisto tudo?! Não, não é para mim aturar isto. Mas como posso eu ir embora daqui? Para onde vou? Como vou conseguir pagar outra casa? =X
Esquecendo os malditos, incomoda-me sentir-me tão sozinha e desamparada. Fazem-me falta os amigos e as amigas. Eu nunca soube viver sem amigos por perto, sem a possibilidade de desanuviar e ver várias pessoas diferentes. Aqui não é assim. Eu sei que tenho de me dar por feliz e contente por ter tantas pessoas conhecidas dentro da minha própria casa, e acreditem que dou. Sei a sorte que tenho nesse sentido. Mas não me chega. Ficar em casa, aqui, é mil vezes mais sufocante que ficar em casa
aí. Não tenho onde ir nem pessoas para visitar. Tenho imensas saudades mas não tenho ninguém para matar as saudades. Sinto-me um animal perdido nesta cidade gigantesca. Sinto que tudo aqui é novo para mim mas na verdade eu não tenho oportunidade de conhecer nada dessa novidade.
Em relação ao trabalho e aos estudo ... bem ... sobre isso nem sei por onde começar. A minha cabeça está caótica. Não consigo perceber nada, nem sequer o que vai dentro dos meus pensamentos. Como diz o D., não sei o quero.
Há dias tive uma pequena conversa com a M. e o N. e disse-lhe coisas de uma forma que ainda não tinha dito a ninguém, mas que são uma grande verdade
(ou pelo menos uma parte dessa grande verdade que me representa). Eu sou uma menina mimada a quem nunca faltou nada e que sempre teve e fez o que queria. Nunca me vi obrigada a debater-me com grandes dificuldades, nunca tive necessidade de fazer sacrificios ou escolhas realmente importantes na vida. Eu até tirei um curso que na verdade não gosto só porque não sabia o que mais escolher!! E porque sempre quis ter direito a aproveitar a minha vida académica, com tudo o que ela incluía. A única coisa boa nessa escolha foi ir parar à melhor Escola Superior onde poderia ter ido, e a família que lá fiz é uma família para a vida. Mas o resto ... o resto foi tudo em vão e sem grande significado. Claro "
tenho um canudo!", mas ... e depois?! Não é o que eu gosto e não é uma coisa que eu exerça bem e/ou por vontade. A culpa não foi de ninguém, na verdade. O meus pais não me obrigaram a tirar curso nenhum nem sequer me obrigaram a fazer as coisas como eles queriam. Tenho a certeza que fizeram o melhor para mim, sempre! Mas não podiam ter evitado que eu seguisse o caminho que segui. E também não foi minha, porque na verdade eu escolhi o que achei que me faria feliz. Infelizmente, enganei-me.
Às vezes sinto-me tentada a sentir inveja ou ciúmes das pessoas que sempre souberam o que queriam e lutaram por isso para o conseguir. Mas a inveja não é uma das minha caracteristicas. Nunca foi. E não consigo olhar para ninguém e pensar "
queria ser assim e ter aquilo que X tem". Não consigo sentir isso. A única coisa que penso é "
eu só queria saber o que quero e o que gosto, como uma pessoa normal!".
No meio disto tudo, é claro que estou chateada e preocupada por ainda não ter arranjado trabalho. Passo a vida a pensar onde raio estarei a errar para não ser escolhida. Encontro mil e um motivos e desculpas para justificar o facto de nunca me escolherem para as funções, mas cá no fundo sei que não fui feita para isto. Hoteis e Restaurantes não me atraem e eu sou mimada e teimosa o suficiente para não conseguir imaginar-me a trabalhar num deles. Eu juro que me esforço nas entrevistas, que dou o meu melhor nos trials e que fico com vontade de chorar sempre que percebo que não vou ficar com o trabalho. Mas acho que, inconscientemente, a culpa deve ser minha e o meu cérebro deve transmitir qualquer coisa negativa ao cérebro dos employers. E então começo a pensar "
Vou mudar de área! Vou arranjar um trabalho num starbucks, numa loja ou qualquer coisa do género só para poder ganhar dinheiro e dedicar-me a uma area que goste" mas depois penso "
mas afinal do que é que gosto?".
Depois preocupo-me porque o D. também não tem trabalho. Às vezes tendo a zangar-me mas percebo que a culpa não é dele. A culpa não é nossa. Nós sabiamos que não ia ser fácil, só não estávamos preparados para que fosse tão difícil. Pelo menos é isso que eu sinto. E depois as saudades invadem-me exactamente quando eu estou em momentos menos bons. Dou comigo a pensar em estradas que percorri vezes sem conta em direcção a sítios que tomava como banais e garantidos, e aqui sei que são tudo menos banais e garantidos. Aqui nada me está garantido. Nem o mar, nem a areia, nem a terra, nem as árvores, nem os cheios. Aqui chove e não cheira a terra. Faz vento e nunca cheira a sal ou a maresia
Isto é uma frustração. Tudo é uma frustração. No entanto não é igual ao que sentia em Portugal. Aí eu estava deprimida e em colapso permanente. Aqui só estou frustrada por não saber muito bem quem sou e o que quero, mas não me sinto completamente perdida ou desesperada. Tenho vontade de ir para casa mas não penso de forma nenhuma abandonar definitivamente Inglaterra. Pelo menos, não no próximo ano. Só preciso de encontrar o rumo, a vocação, a devoção por alguma coisa. Já encontrei a C. e a L., que me fazem sentir menos estrangeira, menos de fora. Pode ser que com elas consiga descobrir como viver melhor aqui. Depois ... depois logo se vê.
Foi um desabafo um pouco mais longo do que tinha em mente. Talvez um pouco menos detalhado, também. Mas acho que foi o suficiente, o necessário.
Se quiserem comentar, estejam à vontade. Se não quiserem, à vontade estejam. Não me importo. O facto de lerem já é importante e reconfortante.
Beijinho
(mais um) e até daqui a pouco.