quarta-feira, 10 de abril de 2013

Reflexões de Carreira

Isto de trabalhar em Londres tem muito que se lhe diga.

Há dias em que só me apetece mandar tudo sabe-se bem para onde. É injusto, é frustrante e mal-pago ... lol. Não é bem assim, mas na minha situação é chato.

Estou há um ano a trabalhar nesta loja, onde sou super bem tratada, o patrão gosta muito de mim, já meu aumentou às escondidas, compra-me medicamentos quando estou doente, se precisar de dinheiro adiantado para renda ou cauções ou coisas do género ele está sempre disposto a ajudar (nunca aconteceu, graças a Deus, mas tivemos essa conversa). Ele dá descontos aos meus pais, mandou prenda para a minha mãe quando ela esteve doente e tenho tido a sorte de ele me deixar ficar com os sapatos que gosto quando os saldos acabam sem ter de lhe pagar nada.

A minha manager tem um feitio diabólico, há dias em que acorda com o demónio dentro dela e é má como as cobras. Mas eu não me posso queixar porque ela também gosta de mim. Sou responsável pelo stock room em época de saldos e vendas em grandes quantidades, sou eu que trato dos artigos com defeitos e devoluções à fábrica, sou eu que faço e mudo cartazes, sou eu que trato dos emails e marco viagens às exibições em Itália. Tudo isto sou eu que faço porque ela acha e diz que não pode confiar em mais ninguém porque ninguém se preocupa. O problema é que ela diz isto à frente das outras e algum dia elas matam-me. É a mim que me manda ir buscar-lhe o café (sim, eu sei o que parece, mas no caso dela é diferente. Ela acha mesmo que me está a dar uma alegria imensa por ir dar uma voltinha à rua e ir tratar-lhe dos recados), é a mim que ela vem contar os segredos, desabafar. pedir conselhos (que ela nunca segue, mas deve-lhe saber bem ouvir porque continua a vir pedi-los) e sempre que lhe tenho pedido férias ela arranja sempre maneira de me deixar ir quando quero. Não me posso mesmo queixar quanto a isso.

Mas ... há sempre um mas. Trabalho que nem um animal, faço esforços físicos que nem os homens daquela loja fazem. Há dias em que às 10:30 da manhã (entro às 10h) já estou a suar como se estivesse no ginásio. Sim, é bom porque faço exercício, mas e trabalhar as restantes 7:30 sem poder tomar banhinho? E quando estamos em tempos de crise (como agora), o meu contrato não me protege em nada. Só me dá a garantia de que não posso ser despedida sem mais nem menos, mas não trabalho horas, trabalho dias, e eles podem reduzir-me os dias se não lhes der jeito ter-me a trabalhar muitos dias por semana. Conclusão, estou reduzida a 3 dias de trabalho por semana. Não compensa!! Recebo para pagar a casa e o que resta é para comprar comida e pagar o transporte. Nem o passe compensa comprar para trabalhar só 3 dias. É então que penso, para estar assim mais valia estar em Portugal. Eu vim para cá para trabalhar, não para estar de papo para o ar em casa. Não me importo de trabalhar 60 horas por semana, juro, mas assim não pode ser. =X

Isto trouxe-me outros obstáculos que me dão muito em que pensar e mostraram-me a quantidade de erros que cometi lá para trás. Às vezes tomamos decisões que nos parecem acertadas no momento, mas esquecemos-nos de pensar se são as melhores decisões a longo prazo e se vão funcionar ou não no futuro. No meu caso falhou tudo. Olhando para trás, tenho cometido erro atrás de erro e agora estou a ressentir-me por isso.

Fui tirar um curso superior em Gestão Hoteleira porque, por exclusões de partes, parecia ser o único curso que tinha alguma coisa a ver comigo. Tinha trabalhado em bares, gostava de festas, estava habituada a viajar e ficar hospedada nos melhores hotéis (burra! só uma pessoa sem cérebro é que pensa que quem trabalha em bons hotéis tem a mesma vida perfeita de quem lá passa férias). No final estava mesmo enganada, Turismo ou Comunicação Social teriam sido cursos bem melhores para mim, mas ... não foi o que escolhi. Depois percebi que essa não era a minha ... vocação (não sei se vocação é a palavra certa, mas terá de servir) e, após dois estágios feitos de forma totalmente voluntária, decidi que não queria mais nada com a hotelaria e quis dedicar-me aos Eventos. Mas as coisas não são assim tão fáceis e pelo caminho percebi que a Hotelaria me teria levado consequentemente aos eventos, mas agora é tarde e o que está feito, feito está. Não consigo arranjar trabalho em hotéis porque um curso e 4 ou 5 meses de estágios feitos há anos atrás não são experiência que se veja, logo a frustração é imensa mas toda ela relacionada com as más escolhas feitas no passado e não com o que acontece em Londres neste momento.

Por mais bem intencionada, dedicada e trabalhadora que seja, e por mais vocação que tenha, as oportunidades não vão surgir se não voltar a fazer o esforço extra que deveria ter feito há 6 ou 7 anos atrás. Portanto é hora de recomeçar a pensar em "estudar" qualquer coisinha que me reabra as portas que eu própria fechei.

Todos os outros projectos são benvindos e terei todo o gosto de me lançar de cabeça a cada um deles, mas parece-me que devo ponderar um regresso à minha área e esperar que o tempo me leve ao resto que tanto ambiciono.

Foi a reflexão de um ano de vida em Londres, que na verdade reflecte uma vida inteira de más decisões profissionais.


Beijinho e até já *

2 comentários:

  1. Tirei o curso de Turismo e trabalhei na área de eventos, tanto ligada a agências de viagens como a hóteis, durante 7 anos, e posso dizer-te que o curso que tiras não influencia em nada a entrar na indústria que pretendes. Tanto Turismo como Gestão Hoteleira são opções igualmente válidas, pelo menos em Portugal. Funciona sim, mais uma vez, as pessoas que conheces. Eu conheci aquela que foi a minha futura chefe, num workshop na Universidade sobre Turismo de Negócios. Fiz várias perguntas e, no final, sem esperar mesmo, fui convidada para fazer um estágio, e assim foi.

    Apesar disto, a vida a mim mostrou-me precisamente que os cursos, pelo menos em Portugal, são pouco importantes. O perfil da pessoa é que interessa. Assim acredito e, segundo o que descreves que é a tua realidade no teu atual local de trabalho, parece-me que já tens tudo para vencer aonde quer que seja! :)

    A escola pode, sim, a meu ver, apenas ajudar a conheceres pessoas, a fazer o networking a entrares no meio. Mas é apenas mais um sítio aonde podes fazer isso.

    Toda a sorte.
    Gosto muito de ler o teu blog, continua!

    ;)

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    1. Wow! Muito obrigada pelo comentário. Acredites ou não, fez-me sentir muito mais motivada =)

      Sim, os contactos e conhecimentos que se vão fazendo ao longo do percurso são o mais importante que podemos manter. Acho que há uma altura em que todos menosprezamos um bocadinho esse aspecto, mas na verdade conta imenso, nunca sabemos quem vamos encontrar e conhecer e, como diz o meu amigo/colega de casa, temos de saber aproveitar as oportunidades que alguns desses conhecimentos nos apresentam.

      Muito obrigada pelo comentário e fico muito satisfeita por saber que gostas de ler o meu blog.

      Um beijinho,
      Erika.

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